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BULIMIA (TEXTO)

Libertar-se de um pensamento que nos cega

Questão de Peso com o Dr. Drauzio Varella - 13º Episódio.
O pesadelo da bulimia
01/05/2005

"Eu gostaria de falar que eu sei muito bem que a televisão engorda. E dizem que engorda pelo menos três quilos. Então, seja lá quem esteja assistindo ao vídeo que estou gravando, saiba que eu

sou pelo menos três quilos mais magra", diz Manoela Penov.
"Eu enfiava a mão, até a altura do punho na garganta. Minha mão era toda ferida", diz a atriz Leka Begliomini.
Há três anos, Leka mostrou para o Brasil uma doença sempre escondida, mas tão antiga que foi descrita pela primeira vez no século V.
"Cheguei a ficar 20 dias tomando só suco. E aí, de repente, você tem um nervosismo por algum motivo qualquer, e aí vem o ataque de compulsão. Você come enlouquecidamente, como por exemplo, um pote de sorvete", conta Leka.
Bulimia nervosa é um transtorno que acomete mulheres de 20 a 40 anos, caracterizado por períodos de grande restrição alimentar, alternados com episódios de comer sem controle, compulsivamente, quantidades exageradas de alimentos que estiverem ao alcance da mão. Esses episódios costumam a ser seguidos de vômitos, uso de laxantes e diuréticos.
"Vou tomar 80 gramas de diurético de uma vez. Deve ser bastante, mas eu não estou ligando muito. E laxante, vou tomar seis por enquanto. Se eu comer alguma coisa, vou tomar mais", diz Manoela.
"Você come, come, come. Acaba de comer e fala: eu não devia ter feito isso. E é aí que entra o diurético, o laxante", conta um rapaz.
"Eu já me acostumei. Então, para mim é natural, toda noite, me levantar e ir ao banheiro várias vezes", diz uma jovem.
"Se falarem para você: vomita que você vai emagrecer, você vai e vomita", diz Leka.
"Quando vomito, a garganta dói e parece que tem uma batata entalada", diz Manoela.
"O perfil do paciente médio que apresenta bulimia é o seguinte: a pessoa se vê sempre mais obesa, mais gorda do que é, com medidas maiores, tem dificuldade de relacionamentos afetivos, social, se sentem muito inferiores às outras pessoas", informa o psicólogo clínico Rafael Cangelli Filho.
"A impressão que eu tenho é que as pessoas olham para mim e me acusam. Que gorda, gorda, gorda!", reclama Manoela.
Com 19 anos, Manoela pesava 94 quilos. Desesperada, sem conseguir comer menos, descobriu um truque que parecia infalível: vomitar tudo depois de comer.
"Eu induzia. Pelo menos uma vez por dia. Depois foi aumentando. Era um alívio tão grande tirar toda aquela comida. E era muita comida, como é até hoje. Eu não consigo comer um pouquinho. Preciso comer muito e desesperadamente", diz Manoela.
"Se a gente consome em torno de 2 mil e 2,5 mil calorias por dia, uma moça com bulimia numa crise pode chegar a 5, 10, até 15 mil calorias numa ingestão rápida", diz o psiquiatra Taki Cordás.
"Eu comeria um elefante. Como não tem nenhum elefante aqui por perto, estou desesperada", diz Manoela.
Comer exageradamente e em pouco tempo é um dos sintomas da bulimia nervosa. Conseguir manter o peso estável, apesar de tanta comida, é outra característica. Para isso vale tudo.
"Colocar só o dedo não adianta. Então, uso o cabo da escova de dente", diz Manoela.
Ao vomitar, o conteúdo gástrico, ácido, queima a garganta, destrói os dentes e provoca esofagia.
"Depois de vomitar, dói tanto a garganta que não consigo nem comer depois. Mas eu vomito até não conseguir mais vomitar. Mas eu sempre acho que ainda tem alguma coisa. Então eu pego meus remedinhos e tomo", conta Manoela.
Laxantes e diuréticos fazem parte do arsenal de quem sofre de bulimia. Os estragos que esses medicamentos causam são grandes.
"A dor que eu sinto da cólica é grande, mas eu penso: bem feito! Quem mandou comer?", diz a jovem.
Vômitos, laxantes e diuréticos levam à desidratação e à grande perda de potássio, que pode causar palpitações e parada cardíaca.
"É muito difícil você aceitar que a sua filha, que era normal, de repente tem essa neura. Batimento cardíaco, muito baixo. O médico diz que a qualquer momento pode haver uma parada cardíaca, o rim parando de funcionar", preocupa-se a mãe de Raquel, Maria Cleusa Ranieri.
"No primeiro dia que saiu sangue, eu liguei para o médico e falei: meu Deus, acho que estou estourando. Não parava de sangrar a garganta. Então, bate uma depressão", diz Raquel.
A complicação mais freqüente da bulimia nervosa é a depressão, às vezes, grave, com risco de suicídio. Quando estava com 18 anos, Raquel sofria de anorexia nervosa, passou três meses internada num hospital. Pesava 42 quilos. Melhorou, engordou e teve alta. Seis meses depois apareceram os sintomas da bulimia nervosa.
"Eu descobri que era bom comer, mas aí eu queria não comer mais. Fica um ciclo louco, porque não se consegue parar de vomitar", diz Raquel.
Esse ciclo doentio já dura nove anos. Aproximadamente um terço da meninas que sofrem de anorexia nervosa na adolescência passa a apresentar sintomas de bulimia quando chega à idade adulta. Qual a diferença fundamental entre a anorexia nervosa e a bulimia nervosa?
"O que diferencia num primeiro momento é o peso. Peso normal na bulimia e peso muito abaixo do normal na anorexia", diz o psiquiatra Taki Cordás.
"Houve uma época em que a Raquel não sentava à mesa. A gente brigava muito, virava uma tortura. Depois, ela sentava, como tem feito, e ela empurra, engana, finge que põe o garfo. Eu fico só olhando", conta a mãe de Raquel.
"Comi. Eu lembro que não posso comer. Então, paro e bebo bastante água para poder vomitar", diz Manoela.
"As adolescentes bulímicas, em geral, escondem da família a sua condição. Que pistas em geral elas deixam para as quais a família deve estar atenta?", pergunta o doutor Drauzio Varella.
"As idas constantes ao banheiro logo depois das refeições, os banhos demorados. Geralmente, as bulímicas levam um rádio para o banho para fazer um barulho maior do que o barulho do vômito", avisa o psicólogo Rafael Cangelli Filho.
"Você já pensou em procurar ajuda?", pergunta o doutor Drauzio à Manoela.
"Eu tenho meu analista. Durante as semanas em que eu tive minhas sessões, diminuiu. Não parei 100%, mas diminuiu. Mas agora que estou de férias, voltou tudo".
Na bulimia, os medicamentos antidepressivos podem ajudar bastante.
"O medicamento faz o papel que é o de diminuir a ansiedade e, com isso, diminuir o impulso alimentar", explica o psicólogo.
O tratamento é delicado, exige o acompanhamento de uma equipe especializada: médicos, psicólogos e nutricionistas.
"A orientação nutricional é fundamental no tratamento de uma paciente bulímica. Se a gente não consegue estabelecer esses critérios alimentares, não temos uma evolução", declara a nutricionista Renata David Kitade.
Alguns alimentos devem ser evitados, porque favorecem a compulsão. Bolachas recheadas, bolo, refrigerante, sorvete e até mesmo algumas frutas.
"É muito comum porque os pacientes dizem que é fácil de sair, de colocar para fora", revela a nutricionista.
"Não adianta falar. Quando vejo que ela vomitou, nem falo mais nada", lamenta a mãe de Manoela.
Não se conhecem métodos para prevenir o aparecimento de doenças como a bulimia nervosa. Raquel e Manoela, que acompanhamos durante meses, estão em tratamento e se recuperam lentamente.
"Comecei a perceber que eu tenho uma doença. Até então eu achava que não era doença nenhuma, que era só uma forma de conseguir um bem-estar que eu não tinha antes", diz Manoela.
"É uma doença que, sem ajuda médica, é impossível conseguir se curar", diz Raquel.
Além da medicação e do acompanhamento psicológico, o tratamento exige força de vontade e disciplina. É preciso evitar os jejuns prolongados. O ideal é fazer várias pequenas refeições por dia.
"Acho que estou melhor. Através do meu diário dá pra ver minha evolução", diz Manoela olhando para a câmera que a acompanha na luta contra bulimia.

Fonte: Fantástico

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